Videogames: arte ou entretenimento?

ico_by_shel_yangEstava eu pesquisando algumas informações sobre games que adquiri recentemente (cabe aqui uma explicação: eu comprei o PS2 a apenas 6 meses) e me deparei  com uma notícia (velha, é verdade, mas eu não tinha visto ainda) sobre a discussão se jogos de videogame, hoje em dia, podem ser considerados uma forma de arte.

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A notícia em questão falava de uma declaração de Keiji Inafune, Chefe do Departamento de Pesquisa, Desenvolvimento e Negócios Online da Capcom, que entre outras coisas, é o criador de Rockman/Mega Man, Onimusha, Dead Rising e character designer do primeiro Street Fighter (não, não é SF II).

Ele teria falado mal dos ex-produtores da Clover Studio (vou falar de uma criação deles mais pra frente). Inafune disse que “videogames não são arte, e precisam apenas vender”. Outro que também teria declarado que videogame não é arte, mas apenas entretenimento, seria ninguém menos que Hideo Kojima, criador da série Metal Gear.

Mas com a constante evolução dos games, eles não podem ser considerados uma forma de arte? Sim e não. Vejamos por que:

Eu jogo videogames desde que me conheço por gente (leia-se: desde o Atari 2600), então acho que posso dar uma opinião mais profunda quanto à isso. Nos primórdios, até pela limitação de hardware, os games eram realmente apenas para serem vendidos. Eram uma forma de entretenimento casual. Mas com o tempo, novos consoles sendo lançados, novas tecnologias ficam disponíveis, e com gráficos e músicas melhores, os roteiros acompanharam também.

wii20rev_ff420-article_blog_imageAcho que o primeiro game que teve um roteiro cinematográfico e músicas memoráveis foi Final Fantasy IV para Super Famicom (quem puder, jogue essa versão antes do remake para DS), lançado em 1991. Um desafio alto para a época, personagens memoráveis e um principal dividido entre a lealdade a seu rei e o peso de seus pecados. O tema central do game é simplesmente “redenção”. Por essas e outras FFIV é considerado o game com o melhor roteiro da série, e o personagem principal, Cecil, é considerado o “verdadeiro herói” pela Square-Enix, o maior de todos os heróis de todos os games da série Final Fantasy (chupa essa, Cloud).

sephiroth-killing-aerithFFIV foi um marco, mas não supera o que aconteceu seis anos depois, em FFVII, já no PlayStation: a morte de Aerith. Pela primeira vez, a perda de um personagem causou um impacto realmente profundo em quem jogava. Eu lembro de ter ficado profundamente triste ao vê-la morrer daquele jeito, e igualmente louco de raiva pela atitude fria de Sephiroth. Mas eu conheço gente que realmente CHOROU com a cena! Convenhamos: se um game realmente desperta sentimentos tão profundos como raiva e tristeza, é porque a barreira entre entretenimento e arte foi rompida. A história dos games se divide em antes e depois de Final Fantasy VII, doa a quem doer.

EDIT: acrescentando uma pequena coisa: como eu pude esquecer da morte do Crono em Chrono Trigger? A morte da Aerith é impactante, mas a do Crono é mais, afinal, ele é o personagem principal, caramba! Claro, ele não permaneceria morto (mas há a opção de terminar o game sem ele), mas imagina tal cena na cabeça de uma criança?

Versão SNES:

Versão anime do PlayStation:

assist11_071107e-lMas no quesito roteiro cinematográfico, nenhum game ganha da série Metal Gear, e ponto. Com uma trama cheia de reviravoltas e personagens com profundidade e psiques bem definidas, todos os games da franquia são filmes interativos, e todos profundamente interligados. É necessário jogar todos os jogos para um entendimento pleno da trama. E para quem anda órfão de Solid Snake e cia., Hideo Kojima está produzindo a versão para cinema de Metal Gear. Ao menos o pai da criança vai adaptar, então a chance de dar algo errado é bem remota.

Mas no quesito arte no sentido literal da palavra, existem três games, todos para PS2, que jogá-los não é apenas uma diversão casual, mas um deleite para os sentidos. Vamos à eles:

Ico

0Lançado em 2001 pela Sony, Ico rompeu padrões ao ser um game com uma história simples (na verdade, a história é muito subjetiva e pouco esclarecida; VOCÊ decide no que quer acreditar), mecânica enxuta, gráficos claros, mas um ambiente gigantesco a ser explorado e uma interação nova, a união entre o pequeno garoto com chifres Ico e a jovem Yorda, que apesar de um não falar a língua do outro, se unem para fugir de uma bruxa malvada. As músicas são poucas, mas se encaixam perfeitamente no clima introspecto do game, dando um sabor todo especial à obra.

Depois de Ico, os designers do game, Kenji Kaido e Fumito Ueda, começaram a trabalhar em uma sequência, mas o projeto ficou tão grande que acabou virando algo totalmente novo:

Shadow Of The Colossus

shadow-of-the-colossusSe Ico é uma experiência fora de série, SotC é, sem dúvida, uma epopéia titânica (que trocadilho infame…). Lançado em 2005, é considerado pelos seus criadores o “sucessor espiritual” de Ico; ele eleva a ambientação gigante de seu antecessor a um patamar inimaginável. Há todo um mundo para você explorar, e não há fases, os próprios Colossos são as fases! Só o fato de você enfrentar um gigante, descobrir seu ponto fraco, e escalá-lo para atacar é inédito. A reação dos gigantes quando você os escala, se sacudindo para derrubá-lo, é impressionante. As músicas são simplesmente geniais, quem nunca gostou muito de orquestra deveria ao menos ouvir a trilha sonora desse título e mudará de idéia. A história é um pouco mais profunda que Ico, mas não vou falar nada, porque não dá pra falar dela sem dar mega spoilers. Vai jogar e veja você mesmo!

Mas muita gente achava que Ico e SotC não eram interativos o suficiente. Mal sabiam eles o que estava por vir…

Okami

okami2Okami é realmente uma obra-prima. Baseado em antigas lendas xintoístas, conta a história da deusa-sol Amaterasu, em sua jornada para destruir a maligna serpente de oito cabeças, Orochi. Desenvolvido pela Clover Studio (foi desse game em especial, e de outros dois da produtora, Viewtiful Joe e God Hand, que Inafune falou mal…) e lançado em 2006, foi o marco definitivo de videogames como expressão artística, quase no sentido literal da palavra. O visual do game, desenvolvido no estilo de pintura japonês chamado sumi-e, faz de Okami uma pintura em movimento. Fora as músicas, todas tradicionais japonesas, são lindíssimas! Mas a novidade é a interatividade quase absoluta, através do Celestial Brush, em que você pode simplesmente bancar o deus: não gosta de escuro? É só fazer o Sol nascer. Quer atacar os inimigos de outro jeito? Desenhe um linha e corte-os, ou faça pontos de tinta e ataque com spots de luz. Reconstrua pontes destruídas, ou faça as cerejeiras, árvores místicas no jogo, florescerem. E quando você faz isso, a cena que se segue, de tudo em volta ganhando vida novamente, é espetacular!

Esses games em especial são o exemplo de que são mais do que games, mas experiências únicas, que se aproximam muito do conceito dito canônico de arte. Mas há um ponto: os criadores dos games nem sempre têm liberdade criativa o suficiente para fazer o que querem, porque por mais conceitual que um game seja, seu principal objetivo é vender, e pronto. Seria eu muito ingênuo se não soubesse disso. Isso poderia definir os games como não-arte, porque uma obra em que o artista não é livre para criar não é arte, fato.

E nenhum desses três games realmente não vendeu muito, infelizmente.  É aquela: o artista é um incompreendido…

Resta esperar: o Team Ico está desenvolvendo um novo game para PS3, e os antigos profissionais da Clover Studio, hoje na Platinum Games, preparam Bayonetta (PS3), MadWorld (Wii) e Infinite Space (DS) para 2009.

Os games artísticos estão aí para ficar. E ainda tem gente que diz que videogame é coisa pra criança…

4 comentários em “Videogames: arte ou entretenimento?

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  1. bom texto eu acho que filmes e musicas e orbas visuais podem se arte, por que um game que mistura todas as artes não pode ser uma obra prima.

  2. Estava pesquisando umas imagens do Okami e…dei de caras com este site, li tudo e formei uma opinião acerca disto: Não tenho acerteza, mas acho que um jogo pode ser as duas coisas…Comprei Okami para a PS2 recentemente, ainda não acabei o jogo, mas enquanto jogava disse:”Uau que coisa linda!” – o jogo é mesmo muito giro, adoro aqueles desenhos e aqueles gráficos combinam muito bem com tema do jogo, é tudo muito giro, é pena que esta gente hoje em dia só pensem em vender vender vender e vender…parece que com o tempo, os jogos vão ficando cada vez piores não sei porque, por exemplo: O jogo “Bolt” eu comprei aquilo e pensei que até fosse fixe mas…começei e a jogar e fartei-me logo, aquilo é tãããããooo repetitivo!luta..luta…luta…luta…e mais luta…)É, é pena que os jogos que sejam giros estejam a desaparecer pouco e pouco…bem…o unico que podemos fazer é aproveitar enquanto podemos…ou então podemos esperar que esta situação mude…mas infelizmente…não estou a ver isso a aconteçer… =( P.s.- Belo site você tem aqui!…Não…não estou na brincadeira, está giro. ;3

  3. Eu realmente vi SotC e ICO como arte é realmente expetacularo modo que você interage no jogo, os locais gigantescos trilha sonora e uma história simples que se desenrola em uma incrível produção realmente adorei.
    O texto ficou ótimo parabéns. =)

  4. É, infelizmente no mundo dos games o que manda, ainda, é a grana. Quando eu lembro que a trilogia Prince of Persia, pra PS2, foi de otimo a maravilhoso, e acabou com um jogo apenas “legal”, por esse mesmo motivo – fracasso comercial – tenho nauseas.

    Tomara que um dia isso mude.
    Bom texto.

    =)

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