A Odisséia dos Nintendinhos Genéricos

O Nintendo 8 Bits (Famicom no Japão) é o console mais popular da história, e consequentemente, o mais clonado de todos. Infinitas versões dele foram lançadas ao redor do mundo, variando do sensacional ao extremamente tosco. E claro que no Brasil não seria diferente, foram muitas versões lançadas aqui por diversas empresas (uma em especial produz seus clones até hoje), dos mais variados formatos. Vamos relembrar?

Em primeiro lugar, vamos falar um pouco do contexto da época do lançamento do Famicom: em 1983, o mercado de games era dominado pelos Estados Unidos (algo bem diferente de hoje em dia), com inúmeras empresas com seus consoles, mas os principais eram o Intellivision da Mattel, o Colecovision da Coleco e o Atari 2600 que dominava o mercado, apesar da Atari já ter colocado o bizarro 5200 no mercado e se preparar para lançar o 7800 em 1984; o cenário no Japão era praticamente nulo, consistindo do Atari 2600 (chamado lá de Atari 2800) e do Sega SG-1000. Nessa época, todo mundo queria uma fatia desse bolo e diversas empresas lançaram seus consoles e games; há histórias da games que foram programados em UMA NOITE (não duvido, vide “E.T.” para 2600) e com tantos lançamentos simultâneos, uma coisa que não existia era algo bem simples chamado “controle de qualidade”. Não demorou muito e o mercado de games ficou saturado, com mais oferta do que procura; pra piorar, a Commodore lançou um computador de baixo custo, o Commodore 64, e várias empresas vieram na esteira. Quando os consumidores viram que valia mais investir uma quantia adicional e adquirir um computador que permitia escrever textos, controlar as despesas de casa e ainda jogar do que simplesmente comprar um videogame, a casa caiu. Todo mundo migrou para os computadores e o mercado de games na América implodiu. Esse foi o “Crash de 1983” (ou de 1984, dependendo da fonte).

No Japão, a Nintendo (que até então só fazia games para Arcades ou outros consoles) resolveu lançar seu próprio sistema, mas vendo o que acontecia no Ocidente, criou um controle de qualidade ferrenho, além de dissociar o videogame da imagem de “diversão para toda a família”, e o direcionou exclusivamente ao mercado infantil. Assim, foi lançado o Family Computer, ou Famicom, que simplesmente salvou a indústria dos games.

Falando um pouco do visual, o Famicom parece muito mais com um brinquedo do que o NES, além de ser muito mais bonito. A alteração de visual se deu porque os americanos ainda torciam o nariz para videogames devido ao Crash, então ele foi remodelado para se parecer mais com um eletrodoméstico, como um videocassete, por isso o encaixe de cartuchos é interno. Particularmente, pra mim o NES é um tijolão cinza, prefiro mais o Famicom.

Também foi lançado o AV Famicom, em que o design foi modificado, ficando parecido com o Super NES, além da saída de vídeo RF (para antena) ter sido subtituída por uma saída RCA de vídeo composto (o Famicom original era apenas RF). O mesmo formato recebeu o nome de NES 2 nos States, mas lá ele possuía apenas a saída RF. Só o primeiro NES possuía saída de vídeo tanto RF quanto RCA composto.

Entendido o contexto do lançamento do NES, vamos explicar o que ocorreu no Brasil: ainda na ditadura militar, nosso país sofreu uma reserva de mercado lascada, que impedia a importação de produtos tecnológicos para cá, a fim de proteger a demanda e produção do mercado brasileiro; reserva essa que restringia não só os computadores, mas os videogames também. Como os aparelhos tinham que ser fabricados aqui, as empresas importavam as peças, faziam algumas modificações nos games (alguns jogos de Atari, inclusive, tinham o logo das softhouses substituído ingame: por exemplo, em “Pitfall”, ao invés de aparecer o logo da Activision, aparecia o da CCE), montavam e vendiam. A fiscalização não era especializada o suficiente para identificar os consoles e games como cópias de produtos importados apenas montados aqui, afinal, militar da ditadura não entendia bulhufas disso mesmo.

Os primeiros consoles genéricos de NES/Famicom (chamados de “Nintenclones” ou “Famiclones” hoje em dia) apareceram aqui em 1989, a reserva de mercado acabou em 1991, mas o boom nos Famiclones por aqui só diminuiu quando o NES foi lançado oficialmente no Brasil, em 1994.

Com vocês, os Famiclones brasileiros:

Phantom SystemEmpresa: Gradiente – Ano de lançamento: 1989 – Padrão: americano

O primeiro lançado aqui. Um dos mais populares, e o mais bizarro de todos: o console é um decalque do Atari 7800 (a Gradiente ia lançar um clone deste, mas mudou de idéia e manteve a carcaça) e os controles são iguais aos do Mega Drive. O terceiro botão era o Start e o azul, o Select. O interessante é que a Gradiente se tornou tempos depois a representante da Nintendo no Brasil (primeiro através da Playtronic, uma parceria dela com a Estrela para a representação da Big N por aqui, depois sozinha, a Estrela saiu fora), mas continuava a comercializar games de NES sem licença, mas por outra empresa, a Falcon Soft. Mas ela era tão burra que o rótulo tinha um baita “compatível com Phantom System” estampado na caixa!

Bit SystemEmpresa: Dismac – Ano de lançamento: 1989 – Padrão: americano

Lançado pela Dismac, empresa que produz principalmente calculadoras. Baseado no visual do NES, mas ao invés de quadradão, ele possuía forma trapezóide.

Top Game VG-8000Empresa: CCE – Ano de lançamento: 1989 – Padrão: japonês

O primeiro clone do NES lançado pela CCE. Ele merece o prêmio de pior controle: era uma versão adaptada do controle do Supergame VG-3000 (clone do Atari da própria CCE), que por sua vez era uma adaptação do controle do Gemini da Coleco e era simplesmente injogável: os botões A e B ficavam nas laterais, e só o controle 1 possuía os botões Select e Start.

Top Game VG-9000 e Turbo Game VG-9000T

Empresa: CCE – Ano de lançamento: 1990 e 1991 (respectivamente)

Padrão: Dual

O segundo e terceiro consoles da CCE. Dessa vez eles vieram com controles D-pad destacáveis (detalhe para o controle do Turbo Game, que era o controle do Mega Drive de ponta-cabeça). Foram os primeiros consoles com sistema duplo: aceitavam tanto cartuchos japoneses (60 pinos) quanto americanos (72 pinos).

Hi-Top Game e Hi-Top Game Turbo

Empresa: Milmar – Ano de lançamento: 1990 e 1991 respectivamente Padrão: americano

O Hi-Top Game ainda se parece com os Ataris genéricos lançados aqui. O primeiro modelo (à esquerda) teve algumas escolhas de design infelizes, como os botões Start e Select no console, além de controles estilo manche do Dynavision. O modelo Turbo (à direita) já possuía o D-pad padrão, além de ser vendido com um adaptador para cartuchos japoneses.

Super ChargerEmpresa: IBTC – Ano de lançamento: 1990 – Padrão: japonês

Sem muitas informações deste (até para achar a foto foi difícil), só que ele é muito parecido com o Famicom e com outro genérico, mas russo, o Dandy.

GeniecomEmpresa: Geniecom – Ano de lançamento: 1992 – Padrão: americano

Este é um genérico interessante: ele possuía um Game Genie (o ancestral do Game Shark) embutido. Você ligava o periférico através da alavanca da direita. Os controles eram grandes e pesados se comparados com o D-pad original do NES, mas possuíam entrada para fones de ouvido e controle de volume independente. Como o NES, ele também possuía saída de vídeo RF e RCA composto, além de poder ligar uma antena no console e no adaptador RF para ligá-lo na TV sem fios.

Ah, o console da foto é meu, e funciona perfeitamente!

Pro System 8

Empresa: Chips do Brasil – Ano de lançamento: 1994 –  Padrão: americano

Um dos últimos lançados no Brasil, pois em 1994 a Playtronic lançou o NES oficialmente. O formato era uma cópia do Super Famicom e os botões do controle possuíam Turbo e Autofire independentes.

Top SystemEmpresa: Milmar – Ano de lançamento: 1994 – Padrão: Dual

O terceiro console da Milmar. Este também possuía sistema duplo de cartuchos. O D-pad era similar ao do PC Engine. Outro da última leva a ser lançado.

>> Especial: Dynacom

A Dynacom merece destaque, pois além de ter lançado vários consoles ao longo dos anos, continua lançando até hoje, 26 anos após o lançamento do Famicom! Vamos lá:

Dynavision IIEmpresa: Dynacom – Ano de Lançamento: 1989 – Padrão: japonês

Arrisco dizer que o Dynavision II (o I era um clone do Atari) é o clone mais feio de todos! Além disso, os controles estilo manche são complicados de manusear, já que um botão fica em baixo e o outro no alto do manche. A primeira tentativa da Dynacom não foi lá muito boa.

Dynavision IIIEmpresa: Dynacom – Ano de lançamento: 1991 – Padrão: Dual

O design melhorou, mas o controle piorou, e muito! Acrescentar mais botões não resolve! Ao menos o sistema de cartuchos passou a ser duplo. Este console é atualizado até hoje, recebendo nomes como Dynavision III Action, Dynavision Radical e Dynavision IV, mas nestas versões, o manche foi substituído pelo D-pad, e o sistema voltou a ser o japonês de 60 pinos.

HandyvisionEmpresa: Dynacom – Ano de lançamento: 1993 – Padrão: americano

Este console é raríssimo: não há muitas informações disponíveis deste clone. Ele era semi-portátil, pois dependia de uma TV para funcionar, como o Master System III Super Compact. Ele funcionava sem fios, através do adaptador RF instalado atrás da TV com uma antena. Mesmo sendo pequeno, ele tinha suporte a outro controle ou pistola, e dava inclusive para jogar os cartuchos japoneses, através de um adaptador.

Magic Computer PC 95 e PC Game

Magic Computer

PC Game

Empresa: Dynacom – Ano de lançamento: 1995 e 2008 (respectivamente) Padrão: japonês

O Magic Computer foi um híbrido de Famicom e “computador pessoal”: além de vir com controle e pistola, ele também possuía um teclado (na verdade, o console era o teclado) e o cartucho vinha com vários programas educativos. Apesar de se vender como um computador, não passava de um Famicom com outra carcaça. Em 2008 ele foi atualizado, passando a se chamar PC Game. A maior novidade é que, além de o console ser algo como um gabinete de PC, ele agora possui um mouse.

Wi-vision, Dynavision Black e Dynavision White

Dynavision Black

Empresa: Dynacom – Ano de lançamento: 2007 e 2008 (respectivamente) Padrão: japonês

Clone baseado no Nintendo Wii, tanto no nome quanto no formato. Os controles são sem fio. Com medo de tomar um processo da Nintendo pela semelhança com o nome, em 2008 ele foi relançado como Dynavision, mas em duas versões, Black e White.

Outros tempos, outros tempos…

23 comentários em “A Odisséia dos Nintendinhos Genéricos

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  1. Show de bola! tive um pro system 8 mas doamos quando adquirimos outro! voce ainda tem o seu? Sou ex-fatecano da Fatec SP! Fiz PP. Sabe onde consigo um desses? Se puder, manda um email! Abraços!

  2. Excelente post,parabens cara,pelo menos alguem se preocupa em trazer a tona um pouco da historia desses consoles nacionais que sem duvida foi uma epoca maravilhosa que deixou muita saudade.Eu tive o Top Game VG9000 da CCE,tinha ate aquele famigerado Street Fighter(lançado sem a autorização da Capcom) me arrependo ate hoje de ter me desfeito desse videogame,curtia muito.Felizmente hoje eu jogo os jogos do Nintendinho no emulador do meu Play 2,Ah,so pra lembrar,essa Chips do Brasil tambem lançou um clone do Super NES,chamado de Super Prosystem 16(quase tive um rs)

  3. o meu era um dynavision III!! eu zerei mega-man 2 — na verdade, rockman 2 — e um monte de outros jogos.

    eu jogava no manche e adorava cara.
    demorei mo tempao pra aprender a jogar no Snes depois.
    abraçs pesquisa otima, parabens!!

  4. Ola td bem muito tive umdesses tb lembro ate hoje troquei em uma bicicleta na epoca pis ñ tinha jogos pra jogar e no outro dia me arrependi até hoje kkkk, mas me diga vc sabe o nome do jogo que acompanhava esse console era de um robo e virava nave quando virava nave ele dimunuia a velocidade ..vc poderia me dizer, desde ja agradeço..valeu !!!!!

    1. O jogo se chama Thexder. Era um port feito pela Square para o Famicom da versão original dos computadores, que era da Game Arts. Por causa desse port que a softhouse conseguiu produzir para a Nintendo. Mas como ela não dava uma dentro e estava quase falindo, a empresa usou tudo o que tinha e em 1987 lançou um game que, se não fosse um sucesso, seria o lançamento final da empresa. Um tal de Final Fantasy…

      Em 2009, a Square-Enix lançou um remake para PSP e PS3, Thexder Neo, em formato apenas digital.

  5. Cara, eu tive um Geniecom e tenho saudades rsrs.
    Já que vc tem um, vc poderia me informar os quais jogos que tem naquele cartucho que vinha nele com 8 jogos? Ficaria muito agradecido se pudesse me dizer. T+

    1. Eram 8 que na verdade eram 4, todos Shoot’em Ups: Thexder, Twinbee, B-Wings e 1942. Os outros eram versões tunadas desses games.

  6. Cara, eu tenho um ProSystem-8 “Baby” completinho aqui (caixa, fita, essa coisa toda), se quiser que eu mande fotos do dito cujo e uma resenha simples, me mande um e-mail avisando.

    Parabéns pela materia.

  7. ahhh, que saudades do meu Magic Computer! Eu tinha só uns 5 anos quando ganhei e não dei valor! Infelizmente n lembro nem o nome dos jogos que me divertiram tanto por tanto tempo :/

  8. como faço pra comprar os joysticks e a pistola do turbo game cce vg-900t? moro em salvador e nao acho + em canto algum. aguardo resposta. abraços, MESSIAS

  9. Vc se esqueceu de dizer que o Phantom, apesar de “bizarro”, era o mais bonito e mais bem acabado dos clones. 😉

    Ah, e o terceiro botão não era A+B e sim o START (que, sabiamente, a Gradiente fez como um botão mais fundo para que ele não fosse acionado acidentalmente, durante uma jogatina frenética).

    Também não entendi por que vc chama a Gradiente de “burra” sendo que a maioria dos produtos compatíveis com o sistema nintendo fabricados no Brasil (adaptadores, controles, joysticks, pistolas e cartuchos) trazia uma referência aos clones mais populares, independente do fabricante. A Falcon Soft, para todos os efeitos, era mais uma dessas empresas genéricas, que fazia cartuchos que deveriam ser vinculados a algum sistema (senão, ia ter nego comprando os carts pra jogar em Master System e até Atari, como era comum acontecer. Leia as primeiras edições da revista Videogame e veja, rsrs!). A própria Dynacom fazia propaganda indireta de seus concorrentes nas embalagens de seus adaptadores. Na do modelo J-72 (carts japas para slots americanos), vinha até uma foto do Phantom! Assim, seguindo o seu raciocínio, a Dynacom também estaria vinculada à Gradiente, coisa que sabemos não ser verdade. 😛

    No mais, texto bem legal, e as fotos dos aparelhos estão muito boas. Valeu conhecer o obscuro Top Game VG8000, que eu só tinha visto em uma única revista da época. Abração!

    1. Chamei a Gradiente de “burra” no sentido que, enquanto ela era representante da Nintendo aqui, ela continuava vendendo games sem licença pela Falcon Soft, e podia ter se dado mal, já que o carimbo nos games “compatível com Phantom System”, que era um clone criado pela Gradiente, denunciava. Mas no fim das contas, a “burra” foi a Nintendo que não viu a sacanagem!

      E sim, me recordo da Dynacom fazendo citações aos concorrentes nas propagandas do J-72 e do A-60 (adaptador para carts americanos em consoles japoneses… tá vendo como eu sei?). Mas naquela época esse campo era “terra de ninguém”, a ordem era vender, não importava como. E como ninguém tinha registro de nada…

      Agora, que “olho de lince” para ver o Start no controle do Phantom, hein? Valeu pelo toque, corrigido. E eu chamei o console de bizzaro porque ele é um Frankenstein: cara de Atari 7800, controle de Mega Drive e sistema Nintendo! Mas ele é bonito sim, concordo.

    2. Eu já tive a versão anterior deste Top Game da CCE que tinha os comandos de joystick tipo alavancas, que achava melhor que os pads posteriores. Os problemas eram os botões de disparos que davam problema de vez em quando e eu sempre fazia a manutenção deles, e os fios que eram fixos no console do aparelho sem possibilidade retirar dele. O console nunca deu problema mas com a evolução da informática, acabei vendendo ele depois que comprei um computador PC. Eram bons tempos os video-games de 8 bits.

  10. Só para informar que o controle original do Prosystem-8 não era idêntico ao do NES. O da foto é que estav usando um de NES original, pois a pinagem era a mesma.

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